Resumo
O presente estudo parte de uma investigação do espaço pictórico através de uma representação figurativa na qual o assunto poético gira em torno do excesso de consumo das sociedades e o consequente descarte de lixo na contemporaneidade. Esta questão se justifica por gerar uma crise que põe em risco a própria sobrevivência de vida na Terra. Os ruídos ecoam a todo o momento, anunciando a urgência do agora: o tempo se esvai, é preciso salvar vidas, é necessário que nós salvemos. A partir deste sentido, a produção plástica instaurada no percurso (2014/2015) – cuja exposição, constituída de 216 obras, foi realizada em março de 2015, na Galeria Gañizares (EBA/UFBA) – expressa uma ação de reciclagem do alumínio, produto fortemente utilizado pela indústria moderna, sendo de forte teor reciclável (100%) e uma beleza estética estimável – daí me beneficiar destas condições, tornando-se a materialidade explorada nesta fase. O uso de um resíduo descartado (lata de refrigerante), a incorporação de uma marca fortemente presente no imaginário (Coca-Cola), o emprego do padrão de cores da reciclagem como paleta cromática (10 cores), a expansão do campo da pintura, juntamente com a reprodutividade da série, resultam em uma “transfiguração do lugar comum” para um espaço de pensamento. Em vista disto e pela constante busca de uma referencialidade teórica (imersão inter e trans-disciplinar), afloram situações outras, que me levam a responder inúmeras questões: algumas trazidas comigo, outras levantadas no decorrer desta dissertação. A obra intitulada “Vek” foi realizada através de conceitos que privilegiou, entre outros, a história do lugar de minha origem. Esta ficou sendo a base de decisão estratégica da pesquisa, de modo a direcionar a criação das demais produções – daí a instauração de uma arquitetura em rede denominada “Raio de Sol” e o firmar que este estudo não resulta unicamente da vontade do artista, tido como pesquisador, mas pela resposta a fenômenos observados – eis o verdadeiro sentido da pesquisa universitária. Neste âmbito, considero a imagem como uma presença viva, produzindo conhecimentos, os quais são aplicados inversamente à cadeia de obras produzidas. É neste sentido que o estudo traz desdobramentos de mão dupla, entre a prática e a teoria, formalizando um modo particular e uno em minha conduta criadora.