Um olhar psicanalítico sobre a infância abandonada no Brasil

Resumo

Crianças abandonadas: quem as abandonou? Ou melhor: que as abandona? O presente tema traz a discussão para a sociedade mas, de forma bastante incômoda, para um olhar dentre de nós mesmos. O fato de sermos capazes de abandonar seres humanos indefesos e incapazes parece tocar em um grande mal-estar civilizacional. Neste artigo, procuramos compreender esse abandono pela abordagem psicanalítica mas, no decorrer dos trabalhos, fomos compreendendo que seria impossível não nos deter – ainda que brevemente – para um olhar histórico e outro social. Para tanto, buscamos apoio em autores que se propõem a um percurso histórico e social para a compreensão da infância abandonada no Brasil posteriormente, fizemos a abordagem psicanalítica que aponta para condições humanas que gostaríamos que não nos atingissem: negar o estranho, o intruso e fazer dele um objeto: destituir-lhe do lugar de sujeito para que ele seja capaz de fazer a sua própria trajetória. Este estudo nos auxilia também a lidar com aspectos importantes de nossa sociedade, que se quer livre e benevolente, mas que se revela capaz de ações estranhas (e, desconcertantemente, familiares): negar ao outro o espaço da vida, destinando-lhe as margens sociais como único lugar de significação possível.